sobrevivência é muito pouco

tempos atrás, meu amigo lísias me mostrou esse estudo do Fórum Econômico Mundial que diz quais são as habilidades em alta no mercado de trabalho até 2025 -quer dizer: já agora. as habilidades são tipo resolução de problemas, pensamento crítico, criatividade, uso/monitoramento/controle de tecnologias, resiliência, tolerância ao estresse, flexibilidade, foco no cliente, persuasão, negociação... são 15 habilidades ao todo -um monte dessas que o povo da corporação chama de soft skills. o texto fala também que não é só pra olhar pras habilidades que faltam na gente, mas que é pra prestar atenção nos nossos espaços e nas pessoas com quem a gente tá pra, só então, mapear em quais dessas habilidades faria mais sentido botar energia pra desenvolver. tipo, as que a gente já tem são mais fáceis da gente treinar e ficar muito muito boas nelas :) aqui pra mim bateu demais a ideia de não só olhar pro que falta <3 me pareceu um bom começo de movimento.

num outro momento, suzana minha cliente me mostrou o report dessa pesquisona (organizada pela Think Olga) chamada esgotadas. essa pesquisa mostra que nós, mulheres, tamos bem adoecidas de tanta irritação, insônia, cansaço, auto-estima baixa, falta de dinheiro -uma tristeza a gente se ver/se reconhecer nesse espelho :( a pesquisa mostra insatisfação principalmente com nossos trabalhos, com as redes sociais e com a gente mesma — luisa sonza nesse disco novo tem, inclusive, uma música que me faz pensar nisso -não tava no roteiro aqui rs mas ó: chama principalmente me sinto arrasada. a pesquisa é super extensa e também super bonita, fácil de impactar -especialmente por conta da linguagem visual do material. ainda to estudando mas sigo maravilhada com o cuidado com as cores da apresentação, com a organização das palavras nessa conversa -como um jeito de facilitar o nosso entendimento (o meio também é mensagem, néra isso? ;-)

também to pendurada a uns meses com outro report, o da declaração dos direitos descansistas (da 65/10), que deixa super claro que essa sobrecarga, a jornada tripla, quádrupla, infinita... pegam muuuito mais a gente, mulher :\ e que, mesmo que o descanso seja um troço garantido por declaração universal de direitos humanos, pela constituição e pela CLT, na prática tem sido assim: ou a gente não consegue fazer esse descanso acontecer, ou a gente se sente culpada quando consegue.

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acontece que nem o esgotamento e nem a falta de descanso são problemas individuais: é tudo estrutural do nosso sistema — e não tá com cara de que a gente consegue desmontar tão cedo esse sistema que é gigantesco, perverso, intencional... pensa o trabalhão que é fazer uma manobra num titanic capitalístico, super hiper mega poderoso, muito dono dos recursos todos! fico achando, então, que a gente precisa estudar pra ter olhos bem abertos na hora de fazer escolhas (quando a gente consegue fazer alguma escolha, né? nem sempre dá) e pra se cuidar, pra estar minimamente boa e conseguir ser também suporte pra quem tá do nosso lado: nossas amigas, as pessoas que trabalham com a gente, nossas famílias.

enquanto essa estrutura capitalística toda não se move -não tem governo nem corporação que vai fazer nada pela gente, sabemos- ou a gente fica atenta pra proteger o nosso próprio bem-estar e pra cultivar a nossa própria criatividade, ou a gente vai mesmo definhar. daí não tem como desenvolver soft skill nenhum, não tem habilidade que sustente a nossa brilhância no mercado de trabalho: tá com cara de que a habilidade que a gente mais tem desenvolvido é a de sobreviver. e sobrevivência (só) é muito pouco pro que a gente tem de potencial: mesmo que a gente aqui esteja num grupão de gente muito maneira, na sobrevivência fica mais puxado desenvolver resolução de problema, pensamento crítico, criatividade, tolerância ao estresse, lalalá, inteligência emocional, né?

pois no finzinho do report dos direitos de descansistas tem uma orientação de práticas de dia a dia/de rotininha pra gente começar a fincar o pé nesse espaço de direito que tem que ser o nosso descanso -mas não só: também pra tentar pra conquistar algum anti-esgotamento, pra tentar olhar mais pro bom, mais pras habilidades e pro brilho do que pro ruim (veja lá!). todas as práticas orientadas são de cotidianidades, tudo do gerúndio da vida, sem grandes sugestões de grandes atividades apoteóticas. já puxando a sardinha pro meu lado, me conectou demais com o que trago pro workshop de comunicação pessoal: essa ideia da gente fazer a pequeneza da vida acontecer pro bem-estar, pra criatividade, pra conseguir dar conta mas des-desgraçar a nossa cabeça e conseguir se disponibilizar no nosso melhor, pra estar junto e se conectar, colaborar, trocar, criar coisas, crescer.

talvez esteja bem aí a intenção que a gente precisa botar/a atenção que a gente precisa se dar (!!!): nesse pequeno gerúndio que a gente já tá vivendo no todo dia — aí sim nossas habilidades se desenrolam no nosso melhor, pro melhor.

sigo daqui querendo conseguir botar essa atenção nas minhas próprias cotidianidades, querendo me disponibilizar no meu melhor pra gente seguir conectadas <3 e desejando que todas consigam.

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