prestar atenção > disputar atenção

tempos atrás ouvi que “a arte pode desenrolar conversas difíceis e também complicar conversas fáceis demais — importante é não deixar essas conversas confinadas nos espaços de exposição, mas levar os papos pr’além de galerias e museus”

e fico achando que quase toda arte é sobre ser gente, sobre humanidade, especialmente sobre o que a gente sente. e que tudo na vida se entrelaça e também se resolve a partir daí, do que a gente tem de característica e de emoção pra se relacionar, se conectar, trocar, colaborar, crescer, brilhar. pensa nas séries mais legais de agora: provavelmente é tudo sobre gente, relacionamento, emoções. pensa nos livros que tá todo mundo lendo: gente, sensações-emoções, etc -quase sempre tão ali as nossas cotidianidades, com lentes de ver o ordinário de um jeito extraordinário <3

workshop de comunicação pessoal →

mas não tem dado tempo da gente contemplar! de perceber e conseguir aprofundar pr’além das primeiras camadas de toda história/de toda sinopse, de parar pra pensar numa coisinha até mergulhar no que tem por trás — tamos todas tão cansadas de comparação e competição e “ter que produzir e performar” que a gente tá trocando viver por sobreviver (nem sou eu que to dizendo, é byung-chul han no livro sociedade do cansaço):

“a preocupação pelo bem-viver, à qual faz parte também uma convivência bem-sucedida, cede lugar cada vez mais à preocupação por sobreviver.

os desempenhos culturais da humanidade, dos quais faz parte também a filosofia, devem-se a uma atenção profunda, contemplativa. a cultura pressupõe um ambiente onde seja possível uma atenção profunda. essa atenção profunda é cada vez mais deslocada por uma forma de atenção bem distinta, a hiperatenção. essa atenção dispersa se caracteriza por uma rápida mudança de foco entre diversas atividades, fontes informativas e processos. e visto que ele tem uma tolerância bem pequena para o tédio, também não admite aquele tédio profundo que não deixa de ser importante para um processo criativo. walter benjamim chama esse tédio profundo de ‘pássaro onírico, que choca o ovo da experiência’.

se o sono perfaz o ponto alto do descanso físico, o tédio profundo constitui o ponto alto do descanso espiritual. pura inquietação não gera nada de novo. reproduz e acelera o já existente."

pensando assim, rede social é ruim mas tamos todas lá, penduradas, rolando quilômetros de feed aleatoriamente. e no mesmo tanto que tem contas deliciosíssimas de fofoca de celebridade, tem também todos os museus do mundo, com acervos inteiros disponíveis pra gente (pelo menos tentar-começar a) fazer um tico desse exercício — e então, quem sabe, abrir na marra algum espaço pra contemplação, e dedicar algum tempo pra se perceber diante de trabalhos que querem fazer conversar sobre ser gente e ter sensações/emoções, prestar mais atenção do que disputar atenção, mudar nossa relação com o que gera inquietação e com o que parece tédio-ruim, e perceber e permaneceeeeer… e talvez -quem sabe, rs- rechear nossos repertórios com interessâncias que façam nossas ideias produzirem conversas mais e mais legais (mesmo que às vezes difíceis) e né, se sentir assim menos no piloto automático, menos alienadas, menos desperdiçando energia… mais sendo gente!

pra ver se nessa substituição de alienação por intenção+atenção (ou na substituição do olho revirando diante do vazio por curiosidade e questionamento) a gente se anima a seguir procurando jeitos de viver a vida toda mais nessa sintonia, em conversa, em sensações e em conexão -com a gente mesma e com outros serumaninhos, pr’além da tela somente 🙏🏻  eu mesma quero conseguir e desejo de coração que todas consigam!

#identidade #humanidade #vidareal →

Anterior
Anterior

gestão de imagem

Próximo
Próximo

cuidar da identidade pra contar nossas próprias histórias