Idéias & Práticas pra cultivar bem-estar online

As duas hashtags que mais uso junto com as ideias que compartilho em rede social são: 

#ainternetéomeupaís e 
#aquiéruimmasébom,

Que representam bem a minha relação com a rede mundial: eu AMO a internet, baixo todos os apps pelo menos pra conhecer, leio sobre tecnologia tanto quanto consigo (consigo menos do que gostaria) e acho rede social uma delícia — mas ao mesmo tempo me sinto oprimida e, pelo menos uma vez por dia me pego pensando "péra — há quanto tempo eu to pendurada nesse telefone e fazendo o que mesmo?".

"Deus me livre/que me dera"

Essa alternância de relacionamento saudável e menos saudável com a rede mundial é uma constante não só pra mim, mas também pra todo mundo com quem eu trabalho/pra quem dou aulas. 

Meu amigo Daniel Larusso diz que tamos na "pré-história da internet" — ela é uma grande novidade nas nossas vidas, por isso mesmo ainda tá todo mundo aprendendo a lidar. Pára pra pensar: aqui no BR a gente tem internet assim na palminha da mão desde 2010, 2012! E essa é uma novidade tão avassaladora, tão preenchedora de todos os espaços das nossas vidas, tão importante em tudo que a gente vem vivendo... Que sinto que, mesmo sendo recente assim, o jeito da internet funcionar tá orientando todo o nosso próprio jeito de funcionar

Quase como se a gente tivesse esquecendo como era ser gente antes da internet; como se alguns dos nossos comportamentos online (assim, aleatórios, numa rede mas sem conectar com nada significativo) tivessem ganhando também a vida real. Então fico achando que encontrar jeitos de estar bem nesse nosso relacionamento com a rede mundial pode re-organizar nosso jeito de fluir na vida

É sobre a mesma coisa: ser gente em primeiro lugar, só que em plataformas diferentes, com aplicações adaptadas de uma mesma ideia. 


Compartilho técnica e sistema pra (se) cuidar e fazer boas escolhas assim, sendo gente, no Workshop de comunicação pessoal ;-) Vamo?


"Excesso de Conexão = Desconexão"

Igual em tudo da vida, a internet tem possibilidade de oferecer coisas incríveis: a gente conhece gente massa, descola colaborações e parcerias de trabalho, estuda coisas por conta própria, conhece pontos de vista diferentes, paquera :) e tanto mais. Mas excesso de internet também tem feito

  • A gente se comparar, 

  • Competir (muitas vezes com a gente mesma e só na nossa imaginação),

  • Sentir ansiedade,

  • Sentir depressão,

  • Ficar viciadona,

  • Se alienar em bolhas,

  • Perder tempo e estar mais distraída, superficial,

  • Sentir sobrecarga,

  • Se sentir consumista de informação,

  • Sentir que não consome informação suficiente,

  • Se sentir sem identidade, especialmente se a gente abastece a internet e não só navega,

  • e a lista podia ser ainda maior, “eu poderia ter ficado mais” (rs)

tudo dessa lista é desconexão da nossa natureza humana mais essencial, é o contrário de ser humana de verdade — nossa natureza-natural é muuuito mais legal que isso. e quanto mais desconectada da gente mesma, mais desgraçada da cabeça a gente pode ficar :\

"Saúde mental é uma condição que se estende muito além da simples ausência de transtornos mentais. Segundo a organização mundial da saúde, ela corresponde a um estado de completo bem-estar físico, mental e social no qual o indivíduo se sente bem consigo mesmo e nas relações com os outros, é capaz de administrar as emoções e a própria vida, lida de forma positiva com as adversidades, reconhece seus limites e busca ajuda quando necessário." (rodrigo bressan, instituto ame sua mente)


Pouquinho de prática > Toooda a teoria

Acontece que só saber/entender o que oprime não faz a gente deixar de sentir a opressão. Pelo contrário: quanto mais a gente entende, mais pode sofrer com isso. tem que fazer, tem que agir pra sair da paralisia e do nervoso, tem que ir pra execução de pequeninas ações. ó:

“Sem experiência, nada se pode saber suficientemente. Há duas maneiras de se adquirir o conhecimento: pelo raciocínio ou pela experiência. Raciocinar leva-nos a tirar uma conclusão que temos por certa, mas não elimina a dúvida. E o espírito não repousa na luz da verdade se não a adquirir através da experiência. “ (Roger Bacon via @thabataneder)

Talvez um caminho seja tentar reconquistar o sentido do cotidiano, das relações e do que é importante pra gente; ir aos pouquinhos ganhando força nesse micro pra dar conta de mudanças maiores, amparada na satisfação que as pequenezas da vida podem render quando a gente faz qualquer coisa com carinho. Tentar fazer as pazes com as escolhas que a gente mesma tá fazendo (por mais que tudo em volta dificulte) — exercitar questionamento e atenção pode ser um primeiro movimento importante.

(Call me ingênua, mas acredito demais que essa satisfação vira otimismo, alavanca outras ações, dá mais resultado ainda e a gente vai brilhando numa confiança, numa nova sensação de relacionamento com o que escolhe :) que encoraja e avaliza quem tá em volta pra experimentar também.)

A gente precisa pensar no que é bom, no que faz bem, no que tem porquê — mas tamos tão ocupadas ou pregadas em telefone o tempo todo, que conseguir abrir esse espaço pra questionar/refletir já é uma grande coisa!

Que né, bem-estar online tem a ver antes com bem-estar. E é preciso não estar ocupada o tempo todo pra então pensar no que faz feliz, no que dá alegria, nos nossos porquês <3 e arranjar jeitos da gente se relacionar diferente com o nosso tempo, com as nossas escolhas.

Raciocinar internet pode servir de parâmetro pra botar esse exercício acontecendo no resto da vida toda. Não pra não estar online, mas pra fazer render o tempo que a gente tem pra isso, e pra ter tempo também pra tudo mais que se quer viver.


Fazer acontecer (de pouquinho em pouquinho)

Massa é que na própria tecnologia a gente tem possibilidades práticas de começar a aliviar essa desconexão:

  • Restringir tempo de uso ¯\_(ツ)_/¯

  • Restringir notificações (e desligar todas que não sejam disparadas por humanos ;-)

  • Cuidar dos nossos feeds e só seguir o que traz alegria (a gente é reflexo do que consome, igual com guarda-roupa lotado aleatoriamente: muita roupa e nada pra vestir)

  • Passar mais tempo nas caixas de comentário, exercitar interação entre pessoas mais que abastecer a internet (tanta gente mais falaaaando que escutando, trocando)

  • Lembrar que internet é mais que instagram: tem texto no medium, tem vídeo no youtube, tem podcasts, tem cursos online em wwws

  • Desassociar internet de feed/tv aberta, e lembrar que internet é Netflix! É pra gente ir atrás das coisas e exercitar curiosidade: isso sim é habilidade humana!

E se a gente conseguisse abrir um espaço menos ocupado na vida pra pensar nisso, pra tentar fazer a troca acontecer?
E ser inventiva e promover trocas de hábitos pr'além da desconexão, hein hein?
O Center for Humane Technology orienta umas práticas possíveis pra angariar esse tempo, tipo:

  • Largar o telefone depois que o sol se põe (ou, pelo menos, duas horas antes de ir pra cama),

  • Não pegar telefone na primeira hora do dia :)

  • Ficar sem telefone um dia por fim de semana,

  • Ficar sem telefone um fim de semana por mês

Aí, se a gente consegue, vale tentar ocupar o tempo que sobra com coisas que a gente já fazia sem telefone, com as mãos \o/ coisas que conectam a gente com nossos sentidos, nossos atributos mais humanos MESMO:

  • Dançar, alongar, se fazer massagem, mexer o corpo

  • Cuidar das plantas, mexer na terra,

  • Imprimir uma receita e cozinhar em vez de pedir entrega por app,

  • Ligar pra uma amiga, estar com amigas,

  • Ouvir um disco inteiro do começo ao fim (e não só faixas que tocam independente da gente fazer escolhas)

  • Caminhar no bairro, sentir o vento no rosto/no cabelo,

  • Escrever em caderno com lápis e borracha <3

  • Tomar banho longo, lavar o cabelo com shampoo super cheiroso, acender vela pra isso e deixar música tocando pra embalar,

  • Preparar um lugarzinho confortável pra ler livro de papel, e sublinhar e grifar, 

  • Descolar uma câmera analógica e praticar a produção de uma foto especial de cada vez (no lugar das 300 iguais que a gente faz no telefone),

  • Se engajar em quaisquer atividades que botem a gente em contato com o nosso mundo interior, que façam pensar sobre a gente mesma, que botem a gente pra ganhar intimidade com o que tem dentro <3 nossas vontades, nossas aspirações, nossas crenças e valores.

E pegar pra si a mania de, em tudo na vida, pensar: porque a gente faz o que faz? porque precisa fazer o que tem feito? que sensações a gente tem tido e o que pode ser antídoto pro que não é tão bom?


Que todas consigam (desejo conseguir!)

Promover na própria agenda essa troca não é qualquer coisa: a gente já tá dando conta de taaanta atividade na vida, já tem tanta tarefa... E a nossa relação com a internet (mesmo nesse tempo pré-histórico de rede mundial) tinha que vir mediada por governo regulando corporações — essas forças muito maiores e mais esmagadoras que a nossa forcinha individual. Fico revolts e não tenho ilusão de a gente vai ~vencer~ o sistema, mas também acho que, sabendo disso, enquanto essa regulação não vem a gente pode tomar conta de si (do jeito que der/conseguir) pra não desgraçar ainda mais nossas cabeças. só de tentar a gente já pode se observar, ganhar mais intimidade com a gente mesma, exercitar autoconhecimento, ó:

“No processo de alcançar nossos objetivos desenvolvemos recursos internos, habilidades e competências, que fortificam nossa autoestima — assim, o que se constrói não é o resultado que foi alcançado, e sim o que a pessoa desenvolveu em si própria pra alcançá-lo.” (bernhard walzberg no livro ‘o executivo consultor’)

E então, no lugar de desperdiçar-esfarelar nossa atenção (já tão disputada o tempo todo pela propaganda), tentar botar essa atenção no que abastece a nossa alma, no que acrescenta sentido ao cotidiano, no que re-conecta a gente com a gente mesma <3 pra gente ser mais que precisar ter ou mostrar.


Estúdio Claraboia
Claraboia é um estúdio paulistano de design gráfico | Claraboia is a São Paulo based graphic design studio.
www.estudioclaraboia.com.br
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